segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

O DESPERTAR PARA A FILOSOFIA

Eu nunca planejei estudar filosofia, na verdade, eu só planejei estudar. O ponto de partida foi gostar de ler e ter uma sincera curiosidade pelo avesso das coisas que lia, ouvia ou via. Foi assim que a filosofia se mostrou o campo da ciência onde eu poderia encontrar a sistemática necessária para continuar estudando. Aquele que não compreende a filosofia como a mãe de todas as ciências, desconhece a natureza de tudo o que professa.
Gostar de ler é algo raro no jovem brasileiro. Graças às péssimas sugestões de leituras oferecidas e exigidas pelas escolas, o jovem brasileiro aprende que ler é a coisa mais enfadonha do mundo. E de fato é se você obrigado a ler algo que não gosta ou que não lhe chama atenção. Eu garanto que, se tivesse lido o chato do Jorge Amado com sua literatura pedante, jamais teria me tornado um leitor. Mas por acaso, na casa de uma professora de literatura, encontrei um livro de Sidney Sheldon, e depois de ler a primeira página, não consegui mais parar de ler. Foi minha salvação.
Questionar ou buscar o outro lado de qualquer afirmação também foi algo que me ajudou a buscar o conhecimento. Sempre acreditei que toda história tivesse dois lados ou duas versões, depois fui percebendo que a história só tem duas versões quando uma delas é falsa. A história é, por vezes, a narração de um ponto de vista e não a descrição da realidade embora a realidade exista na dinâmica do tempo onde não pode ser alterada. A busca da verdade (realidade) é a atividade sobre a qual o filósofo deve se debruçar.
Outra coisa boa que fez a diferença na minha vida intelectual foi ouvir histórias. Meus pais nunca foram bons nisso, porém, todos os domingos eu me sentia animado para ouvir as histórias bíblicas contadas na Escola Dominical. Davi e Golias, Rainha Ester, José do Egito e outras histórias alimentaram a minha fantasia infantil, com uma das maiores lições da vida: é possível vencer o mal sendo bom e agindo corretamente.
Todo filósofo pode se dar ao luxo de escolher uma corrente ideológica, mas os filósofos de verdade são aqueles que ignoram seu posicionamento pessoal para absorver tudo o que está proposto pela intelectualidade mundial e talvez, quase no final dos seus dias, ter algum vislumbre de entendimento e transformar tudo em obra literária. Fazer o caminho inverso, isto é, sair por ai dizendo tudo o que defende sem se dar ao trabalho de ouvir as vozes dos filósofos mortos, é pura ilusão.

A filosofia não é a ciência que vai fazer deste mundo um lugar melhor pra viver. Ela é a ciência que vai tentar compreender melhor o mundo em que vivemos. Seu papel é apenas este: compreender o mundo. O uso que se faz dessa compreensão de mundo não estará mais no campo da filosofia, talvez nas ciências políticas, sociais, geográficas, enfim, mas não na filosofia. Interessa-me mais a compreensão que sua aplicação ao mundo prático.